O contraste não pode ser mais evidente. Enquanto que os trabalhadores e as suas famílias vivem com o peso das prestações ao banco que aumentaram brutalmente, com o custo em manter uma conta aberta a subir, os cinco maiores bancos tiveram lucros, nos seis primeiros meses deste ano, de 2,6 mil milhões de euros (2 679 568 000€).
Por dia, são mais de 14,7 milhões de euros que estas instituições tiveram de resultado líquido, ou seja, já depois de deduzidos todos os encargos, incluindo impostos. Comparando os lucros líquidos por dia, os resultados de 2024 representam um aumento de 18,9% em relação ao ano de 2023, mais do dobro que em 2022 e mais de 3,6 vezes dos resultados obtidos em 2021.
Na base destes resultados estão, não só as “margens financeiras”, como as comissões cobradas, isto é, por um lado o aproveitamento da política do Banco Central Europeu (BCE) ao nível das taxas de juro e, por outro lado, a sobrecarga de custos imposta a todos os que recorrem aos serviços bancários, seja na simples manutenção de uma conta, seja nos custos associados ao crédito para compra de habitação ou outros.
Fonte: Comunicados de divulgação de resultados das instituições referidas; valores (excepto variações percentuais) em euros.
Nos lucros da banca, para além de estarem as dificuldades impostas aos trabalhadores e às micro, pequenas e médias empresas, reflecte-se também uma política de habitação que deixou ao mercado e à especulação, aquilo que cabe ao Estado garantir: o direito à habitação.
Milhares de famílias são empurradas para a compra de habitação própria e hoje estão confrontadas com um aumento de encargos que, nem de longe nem de perto, é acompanhado pelos seus salários.
É neste contexto de crescimento da acumulação e centralização de capital que o Governo da AD se prepara para descer os impostos que incidem sobre estas grandes empresas, sendo estas as principais beneficiadas da descida do IRC, por aqui se constatando a falácia de que, descendo os impostos, aumentará o investimento ou irão melhorar os salários. Aquilo que a opção do Governo da AD garante, são mais lucros e maiores dividendos, acentuando o crescimento das desigualdades que é económica e socialmente insustentável.
Perante esta situação, a CGTP-IN exige que no imediato os colossais lucros que vêm sendo acumulados sejam usados para aliviar o peso insuportável que os trabalhadores e suas famílias estão sujeitos nos créditos à habitação, ao mesmo tempo que, ao invés de aliviar ainda mais, o Governo actue no plano da justiça fiscal e coloque os grandes grupos económicos a pagar aquilo que devem.
A CGTP-IN reforça ainda que é fundamental, para o país se desenvolver, que seja recuperada a soberania ao nível da política monetária, libertando-se assim das medidas impostas pelo BCE, que garantem lucros a uns poucos, mas impõe dificuldades à grande maioria da população e condicionam o potencial de desenvolvimento de Portugal.