mandela 100anosA CGTP-IN evoca Nelson Mandela no dia em que se cumprem 100 anos do nascimento do dirigente histórico do Congresso Nacional Africano (ANC na sua sigla inglesa) e da luta do povo sul-africano contra o apartheid.

Carinhosamente chamado pelo seu povo de Madiba, Nelson Mandela é uma personalidade respeitada internacionalmente pela sua dedicação e coragem, pela sua integridade moral e política; um homem que importa recordar e perpetuar o exemplo para que ninguém esqueça o seu legado universal.

A vida de Nelson Mandela confunde-se com a luta do seu povo contra o regime segregacionista: aderiu desde jovem ao ANC, sendo um dos fundadores da Liga Juvenil do ANC (1944) e, desde sempre, um defensor da unidade e da afirmação da Aliança Tripartida (ANC, Partido Comunista Sul-Africano e COSATU – central sindical); depois do massacre de Sharpeville (1960), no qual a polícia sul-africana assassinou 69 pessoas que se manifestavam contra o apartheid, passou a liderar a luta armada dirigida pelo ANC; em 1962 é preso numa operação que envolveu a CIA e a polícia sul-africana, tendo sido condenado a prisão perpétua, acusado de terrorismo, devido ao seu envolvimento com o Partido Comunista Sul-Africano; passou 28 anos na prisão, tendo sido libertado em 1990, fruto do heroísmo da luta do seu povo e de uma campanha ímpar de solidariedade internacional exigindo a sua libertação; já na legalidade, liderou o processo político que pôs um ponto final no regime do apartheid; foi presidente da África do Sul de 1994 a 1999, nos primeiros passos da transição do regime de dominação da minoria branca para a igualdade entre todos os sul-africanos e a democracia.

A luta de Nelson Mandela e do seu povo andou muitas vezes de mãos dadas com a luta do povo português e dos povos das ex-colónias portuguesas contra o fascismo e pelo fim do colonialismo. Assim foi para contrariar a ajuda mútua dos dois regimes à contenção dos movimentos de libertação e das guerras de independência, ou para furarem o boicote económico e político decretado pela ONU a partir de 1971. O regime do apartheid procurou por todos os meios conter a luta de libertação nacional em Angola e reverter a sua independência. Mas foi a bandeira da liberdade, da soberania e independência nacional que saiu vitoriosa, particularmente na batalha de Cuito Canavale, da qual o poder racista saiu fragilizado, ainda mais isolado e forçado a fazer concessões: negociar e legalizar o ANC. Herdeiro deste funesto percurso, Cavaco Silva e o seu governo do PSD votaram ao lado dos EUA de Ronald Reagan e da Grã-Bretanha de Margaret Thatcher contra a exigência da libertação de Nelson Mandela e tentaram sabotar as sanções da União Europeia (UE) contra o regime do apartheid.

A solidariedade internacional não faltou à luta de Nelson Mandela e do seu povo. E Nelson Mandela soube retribuir. Em visita de Estado a Portugal, em 1993, o então presidente da África do Sul encontrou um momento para saudar “os amigos portugueses do povo sul-africano”, motivado pelas importantes campanhas promovidas no nosso país, particularmente pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), às quais a CGTP-IN se associou. O carácter solidário da sua luta expressou-se no apoio à libertação dos povos africanos vítimas da colonização, mas também no seu apoio ao direito à autodeterminação da Palestina. Foi em todo o seu percurso de vida um indefectível lutador pela Paz, tendo-lhe sido atribuído o Prémio Nobel da Paz em 1993.

Num tempo em que o poder do capital volta a promover o discurso de ódio racial, xenófobo e fascista, nomeadamente na UE e nos EUA e particularmente contra os refugiados e imigrantes, ganha ainda maior actualidade lembrar as palavras de Nelson Mandela, quem muito nos ensina sobre como a segregação racial e a exploração são duas faces da mesma moeda: «ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor da sua pele, ou do seu passado, ou da sua religião. O povo aprende a odiar, e se pode aprender a odiar, pode-lhe ser ensinado o amor, o amor vem mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto».

Enquanto presidente da África do Sul, Nelson Mandela não esqueceu os ensinamentos da sua luta e da luta do seu povo no muito que havia - e ainda há - por fazer neste país para ultrapassar os sulcos fundos de centenas de anos de colonialismo e de décadas de regime do apartheid. A democracia que defendeu para a África do Sul assentava na superação da segregação racial e da exploração do trabalho, aprofundando e alargando os direitos de todo o povo, incluindo os direitos dos trabalhadores. Foi defensor da melhoria das condições de trabalho e de vida dos sul-africanos, da implementação e da regulação da contratação colectiva e do direito de greve para defender os direitos dos trabalhadores, foi defensor dos serviços públicos.

Num tempo em que o poder dominante do capital quer impor o retrocesso social e a subjugação de países e povos, evocar Nelson Mandela é para a CGTP-IN impulsionar a luta dos trabalhadores e dos povos pelos seus direitos, pela paz, pela dignidade e pela igualdade, contra o racismo, contra a exploração e a opressão nacional. E é também dar força à solidariedade internacionalista, com todosos que lutam, porque, como dizia Nelson Mandela, «tudo parece impossível até que seja feito».

INT/CGTP-IN
18/07/2018