Ambiente e desenvolvimento sustentável, ao serviço do país

 

Américo Monteiro
Membro do Conselho Nacional

É um privilégio intervir num congresso que tem cerca de mil delegados e nem 20% têm esta oportunidade.

E não queria fazer um discurso como não faltam por aí no panorama nacional e não só. A sobrepor-se aos discursos que invocam a inteligência, o discurso da intriga e do desprezo. Ao discurso que pretendemos da empatia, não falta aí fora quem queira impor o discurso da antipatia, promover a divisão, em vez de incitar à união e à noção de pertença.

Muitas vezes, aqueles que mais tem público são os discursos mais básico e com carga de violência despidos da própria realidade.

Neste tempo de redes sociais, funciona a estrutura do descrédito do outro a que ninguém escapa.

Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar e que pelo menos do lado dos trabalhadores, implementemos a inversão deste rumo, nos mobilizemos, pois sabemos que “A memória é o horizonte da Esperança” Esperança activa, Esperança que motiva, Esperança que incentiva.

Não podemos perder a memória das lutas operárias, do que já se conquistou e do tanto que ainda falta conseguir para que os trabalhadores, por esse Mundo fora, tenham uma vida e um trabalho dignos.

Tem sido, nos últimos anos, da minha responsabilidade 2 departamentos.

O Departamento de Formação Sindical e desse não vou falar muito. Não há tempo nem espaço para grandes avaliações nesta altura e outros abordarão esse assunto.

Só direi que todos testemunhamos que os direitos dos trabalhadores estão sobre ataque e portanto está sobre ataque a própria solidariedade entre os trabalhadores.

A rapidez com que as coisas se passam obrigam-nos a encontrar novas soluções para responder à realidade de vida e trabalho dos trabalhadores para encarar o mundo que muda todos os dias a um ritmo aceleradíssimo.

A formação e a Educação para o desenvolvimento, são hoje o desafio maior que se nos coloca em qualquer profissão ou responsabilidade na sociedade.

Quanto ao outro departamento;

Quis o destino que no decorrer dos compromissos que tenho assumido na vida, me viesse a calhar a responsabilidade de coordenar o Departamento de Desenvolvimento Sustentável e Ambiente... da maior organização social em Portugal que é a CGTP-IN.

Temos por objectivo a sensibilização dos sindicatos para esta problemática do desenvolvimento sustentável. Não é fácil e ainda há muito a fazer, mas naqueles sectores mais directamente ligados com as questões ambientais, vamos conseguindo interagir com alguns resultados.

As última década, com a crise da qual ainda hoje pagamos as graves consequências, em particular após a aplicação do programa de ajustamento da Troika, o foco dos trabalhadores em Portugal foi o de defender direitos adquiridos e agora mais tarde o de recuperar direitos que nos foram roubados.

É normal que nestas circunstancias haja mais dificuldades em chamar a atenção dos trabalhadores e suas organizações para outros grandes problemas que hoje se nos colocam ao nível climático e para a necessidade de defesa do ambiente e da nossa “Casa Comum”

Na dinâmica sindical, em Seminários ou reuniões discutimos os “desafios sindicais” que se nos colocam nas seguintes temáticas: A Transição Justa para uma Economia de baixo carbono; Economia Verde e Empregos Verdes; a COP 21; o Acordo de Paris 2015 e a sua Implementação em Portugal; A Agenda 2030 da ONU e os ODS - Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável; A importância da biodiversidade; os acordos CETA e TTIP e as consequências para o ambiente; trabalhadores/Consumidores; Economia Social e Cidadania Activa; Prospecção e extracção do Petróleo em Portugal; Energias renováveis e Eficácia energética – o Impacto da Transição e a Acção dos trabalhadores e dos Sindicatos; Desenvolver a Acção Sindical em favor de um Desenvolvimento ambientalmente Sustentável.

Eu penso que é possível tornar compatível o crescimento económico com o respeito e o cuidado com o ambiente e para que se travem as crescentes migrações climáticas.

Estão aí mudanças tecnológicas de grande alcance que causarão grandes transformações. Mudanças profundas e rápidas da forma como produzimos, nos movemos e consumimos.

Vivemos todo um processo de transições energéticas. Mas a discussão está aí. Entendo que é possível criar empregos dignos para combater a precariedade e combater eficazmente o aquecimento global, os chamados Empregos para o Clima.

Há vários sectores chave que neste período de transição e numa perspectiva de combate ás alterações climáticas podem proporcionar a criação de muitos empregos, desde que se faça uma aposta pública séria, na produção energética alternativa e limpa, nos transportes, edifícios, industria, agricultura e resíduos. Há opções a exigir e decisões a tomar.

E os sindicatos não podem alhear-se destes assuntos hoje fundamentais para o futura da vida no planeta.

Estes últimos 4 anos este departamento, do desenvolvimento sustentável e do ambiente, teve muita dinâmica. Isso está retratado no relatório de actividades que todos vocês dispõem.

Já quanto ao programa de acção para os próximos 4 anos, penso que ficamos aquém do que hoje é exigido aos sindicatos neste aspecto importante da vida de todos nós.

Para nós sindicatos, a defesa de uma mudança social e a defesa do planeta perante a emergência climática, são dois elementos que não se podem separar.

As contradições entre o capital e a vida são um elemento nuclear na hora de entender os desafios que temos pela frente.

O que sentimos é que o capitalismo, que domina o nosso mundo e as nossas vidas, ameaça as raízes de base da vida, devorando pessoas e natureza, porque tudo converte em objectos de usar e deitar fora, descartáveis, para obter a máxima rentabilidade económica.

Isto é radicalmente incompatível com a vida. É preciso mudar de rumo e os sindicatos podem e devem ter aqui um papel importante.

E porque acredito que deste trabalho pode resultar motivação para trabalhadores se interessarem pelo seus sindicatos e se associarem para agirem nos seus locais de trabalho e nos seus meios sociais.

Caros companheiros, Camaradas e amigos.

A luta lá fora espera por nós!

Seixal, 14 de Fevereiro de 2020

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