Intervenção de Gonçalo Paixão
Membro do Conselho Nacional
A ORGANIZÇÃO, A INTERVENÇÃO E A LUTA DA JUVENTUDE TRABALHADORA
Camaradas,
Em nome da Interjovem, saúdo o XV Congresso da CGTP-IN, um momento alto para a vida de todos os jovens trabalhadores, para a sua organização e para a sua luta.
Estes 4 anos foram marcados pelo aprofundamento das desigualdades no nosso país, pela degradação das condições de vida e de trabalho da esmagadora maioria do nosso povo com impactos particularmente severos para as camadas mais jovens – para os jovens trabalhadores.
Somos 1 milhão e 300 mil jovens trabalhadores, em Portugal. Somos um terço de toda a força de trabalho nacional, somos o futuro, mas neste momento somos o presente, somos a tão ostentada geração mais qualificada de sempre, mas, nem por isso, deixamos de ser a geração que mais tarde saí de casa do país, ou a geração que, pelas políticas que se têm sido exercidas, é empurrada para uma vida pior que a da geração anterior, nem por isso tudo, deixamos de representar mais de metade do total dos trabalhadores com vínculos precários, no nosso país.
Vínculos precários que enfrentamos afirmando que nós – jovens trabalhadores – não somos temporários, nem tão pouco descartáveis, afirmamos e reafirmamos as vezes que forem precisas que queremos trabalhar! Queremos trabalhar com perspectivas de futuro, queremos trabalhar com direitos e estabilidade! Não queremos nem muita nem pouca, queremos acabar com toda a precariedade!
Precisamos de vínculos de trabalho efetivos de igual forma que precisa um jovem trabalhador de um salário digno. Sim, um salário digno. Um salário que não se fique pelo meio do mês - que não force tanto e tanto jovem a uma vida de mera sobrevivência um mês de cada vez, mas sim que garanta uma vida digna uma vida com qualidade e estabilidade.
Está mais do que claro que não só é necessário como é urgente, justo e possível o aumento geral e significativo dos salários, no mínimo em 15%, nunca inferior a 150€, e a fixação do salário mínimo nacional nos 1000€ neste mesmo ano, em 2024, como reivindicamos. Porque não é em 2026, 2028 ou 2030 que temos renda e contas para pagar – é agora, camaradas.
Porque o dinheiro faz falta, e o tempo também. É à juventude trabalhadora que são impostos cada vez mais instrumentos de desregulação de horários. Sejam sob a forma de banco de horas e adaptabilidades, sejam sob a forma do trabalho nocturno ou por turnos onde as suas aplicações não se justificam, o patronato, em prol do lucro, rouba e tem roubado aos jovens trabalhadores o direito à sua juventude.
Não somos peças de uma máquina, somos seres humanos com direito a uma vida saudável e equilibrada, com tempo para trabalhar em dignidade, tempos de lazer para aproveitar com os amigos, para namorar, para passar com as nossas famílias e entes queridos, para praticar desporto e para a cultura a que temos direito. Tempo para sermos jovens enquanto jovens somos.
No ano em que comemoramos os 50 anos da Revolução Libertadora de Abril, fazemos das suas conquistas, dos seus valores e do seu projecto transformador as nossas reivindicações que nos últimos 4 anos foram de grandes desafios para os jovens trabalhadores, desafios que exigiram uma resposta assente na nossa capacidade de organização e, através dela, de levar a nossa luta avante.
Luta que não cessou, nem mesmo, em tempo de pandemia.
Quando a tantos de nós foi imposto o teletrabalho, lá estávamos – Interjovem e Movimento Sindical Unitário – a intervir e a denunciar o que era e continua a ser inadmissível pagar para trabalhar, que de forma alguma podem as nossas casas, o nosso espaço, ser confundido com o local de trabalho.
Lá estávamos, como agora estamos, nas empresas e nas ruas – onde realmente temos que estar – porque este país não parou e se não o fez foi porque houve trabalhadores que não o fizeram. Lá estávamos ao seu lado, com um documento, um par de ouvidos e uma máscara. Uma máscara que esconde um sorriso, um sorriso que move um punho, um punho que se ergue contra a adversidade, contra a precariedade, os baixos salários e todas aquelas barreiras que nos quiseram e querem impor e, com a nossa força e organização, conseguiremos derrubar.
Queriam-nos no sofá, tinham-nos nas ruas de todo o país. Tinham-nos na rua nas acções e manifestações do 1º de Maio, nas grandes acções e manifestações convergentes da CGTP-IN e especialmente nas manifestações nacionais em torno do 28 de Março, dia nacional da Juventude, em Lisboa e no Porto, com jovens trabalhadores de todo o país, trazendo a força das lutas concretas dos locais de trabalho.
Saímos à rua e lutamos nas empresas e locais de trabalho, exigindo a nossa valorização, rejeitando como alternativa à grave crise social a juventude tem estado exposta – a emigração. Queremos trabalhar e viver no país em que crescemos e afirmamos a organização e a luta como o caminho para a concretização das soluções aos problemas dos trabalhadores e do país.
É dos Sindicatos, das Uniões e das Federações que emana o trabalho da Interjovem. É a partir destas estruturas que se identificam os locais de trabalho prioritários, são os Sindicatos que identificam e responsabilizam os jovens trabalhadores, que os elegem como delegados sindicais, que inserem as suas reivindicações específicas nos cadernos reivindicativos. É com este trabalho, com o combate à pressão, à chantagem, e à ofensiva ideológica que empurra os jovens para o individualismo, que sindicalizados nos últimos quatro anos 16 mil jovens. 16 mil jovens que, com a iniciativa, e entusiasmo da juventude, devemos abordar como potenciais ativistas sindicais e
representante dos trabalhadores.
Assim camaradas, urge criar e reforçar as comissões de jovens em cada Federação, União e Sindicato. Envolver os milhares de jovens trabalhadores que se sindicalizam e que se estão a sindicalizar, urge potenciar a acção sindical em torno das suas justas e concretas aspirações e reivindicações.
Será com esta grande força juvenil, com o contributo activo de cada sindicato, que sairemos uma vez mais à rua já no dia 27 de Março – na Manifestação Nacional de Jovens Trabalhadores em Lisboa e no Porto, carregando as tão justas e necessárias aspirações da juventude trabalhadora, com energia e alegria, com grande iniciativa e combatividade, com a capacidade reivindicativa que à juventude trabalhadora lhe é tão característica.
Viva a Luta dos Jovens Trabalhadores!
Viva a Interjovem!
Viva a CGTP-Intersindical Nacional!
Seixal, 24 de Fevereiro de 2024