Intervenção de Deolinda Machado
Membro do Conselho Nacional
A CGTP-IN e os órgãos de Comunicação Social
Quero iniciar esta minha intervenção com uma saudação a todas e a todos os congressistas presentes neste 13º Congresso da CGTP-IN. Na pessoa de cada um de vós, saúdo todas e todos os trabalhadores portugueses, bem como aqueles que vivem e trabalham no nosso país. Quero saudar todas e todos os que deixam os Órgãos de Direcção deste Movimento Sindical Unitário, mas que continuam no nosso projecto CGTP-IN, nesta organização de cuja história nos orgulhamos ao longo dos 45 anos de intervenção e luta por melhores condições de vida e de trabalho.
Nesta sociedade do descartável e da economia que promove a escravatura, exige-se assegurar a valorização do trabalho e dos sindicatos, afirmar a dignidade da pessoa como centro de vida, humanizar as condições de trabalho para todos. Combater as desigualdades, a exploração e o empobrecimento é o caminho.
A nossa história colectiva escreve-se quotidianamente nos locais de trabalho, nos êxitos conseguidos a partir da resposta aos problemas dos trabalhadores, do povo e do país. A CGTP-IN continuará a luta heróica das mulheres e homens trabalhadores que nos precederam neste trajecto.
Muitos estão entre nós, outros já partiram, mas todos escreveram páginas deste nosso livro colectivo com a sua abnegada entrega à luta pela transformação deste país e deste povo, à luta por um mundo mais justo e solidário.
Uma palavra para os que chegam a esta grande central sindical. Nós contamos convosco e vós contareis sempre connosco. É neste abraçar por dentro, em torno da defesa dos trabalhadores, que nos encontraremos sempre.
Estamos quase a comemorar os 40 anos da Constituição da República Portuguesa. A democracia, a liberdade e a soberania são, entre outros, pilares constitutivos do Portugal de Abril. As eleições de Outubro passado permitiram traçar um novo quadro político, reforçar a democracia, renovar a esperança, inaugurar uma nova fase de entendimento e de compromisso em defesa dos trabalhadores, do povo e do país. Este é um desafio que a todos envolve e compromete. É o desígnio que abraçamos.
São extremamente importantes as responsabilidades de todos e de cada um aqui presentes. A militância, a definição das prioridades e a acção de todos, em torno do projecto CGTP-IN, organização sindical de classe, unitária, democrática, independente e de massas, fará das fraquezas força, e traçará as principais orientações para o Movimento Sindical, dando concretização a uma democracia de progresso e desenvolvida no nosso país que, com outros povos, fará caminho para um mundo de Paz, de justiça e solidariedade efectiva, pois é possível um mundo melhor.
Esta acção permanente é transversal a todas as áreas de intervenção do sindicalismo, mas é da comunicação social que falaremos.
Com a reprivatização e a concentração da propriedade de empresas de comunicação social, com a concentração da publicidade e a sua influência na sustentabilidade dos órgãos de comunicação social, deu-se a comercialização acelerada da informação e a cada vez maior penetração das assessorias das mesmas nas redacções e na marcação da agenda política e ideológica dos interesses do capital e o predomínio do entretenimento é assinalável, em prejuízo da informação. Estes factos estão presentes no tratamento de certos temas, na submissão aos seus interesses de classe, aos interesses económicos, na lógica perversa da concorrência de mercado, baseada na oferta de baixa qualidade e no sensacionalismo, em detrimento das dimensões formativa, cultural, informativa e social, numa linha de continuidade intencional no assalto à consciência política dos portugueses.
Nos últimos anos, a referida concentração de poder tratou a informação como uma mercadoria, cuja aposta incide na cultura da imagem, na venda rápida, superficial, lucrativa, submetendo-a aos interesses ideológicos do grande capital, sobrepondo os valores comerciais aos valores jornalísticos, a que se acrescenta a omissão intencional e manipuladora da informação, impedindo o completo esclarecimento dos cidadãos. Em causa, fica a ética que preside à liberdade de informação e ao jornalismo de investigação e os direitos dos profissionais.
Há um considerável número de empresas de comunicação que intensifica a produção de materiais jornalísticos onde proliferam a precariedade, a intimidação e a represália, instabilizando a vida dos trabalhadores. São frequentes os contratos a prazo ou de prestação de serviços, falsos recibos verdes, a utilização consecutiva de estagiários para ocupação de postos de trabalho permanentes. Em consequência de despedimentos e de saídas forçadas de profissionais com experiência, as redacções dos órgãos de comunicação social estão a ficar sem memória. Como resultado, e de forma assinalável, esta ausência traduz-se na cobertura deficiente do tratamento das questões do trabalho e dos sindicatos.
O movimento sindical unitário continua a ter como desafio a elevação do nível de consciência social, político-sindical e de classe dos trabalhadores, através da formação e informação específicas e adequadas às necessidades identificadas. Adequar cada vez mais as mensagens sobre as nossas posições aos diferentes destinatários, é o objectivo a atingir.
A informação e a comunicação sindical,nas suas diversas dimensões – junto dos trabalhadores e da população, relacionamento com os órgãos de comunicação social e com os associados dos Sindicatos e público em geral – continuará a constituir um pilar essencial e indispensável da acção sindical. A formação de dirigentes responsáveis, por áreas e frentes de acção, e pelos que acompanham regiões e coordenam sectores, é primordial nos próximos anos.
Continuar o estudo da realidade comunicacional nos grupos de trabalho criados para a Informação e Propaganda e para a Comunicação Social, bem como junto das universidades, para melhor munir os trabalhadores de instrumentos que estimulem a sindicalização, mobilizem e motivem a participação democrática na vida sindical e promovam a solidariedade de classe, é um desafio permanente.
No que concerne à relação do Movimento sindical com os meios de Comunicação Social e no que respeita à divulgação, valorização das lutas e dos resultados alcançados pelos trabalhadores, importa reforçar a estratégia de comunicação planificando e gerindo previamente a informação. Assim, impõe-se continuar e reforçar a tomada de posição sobre diferentes temas da actualidade noticiosa, tratar a informação sindical a difundir, contactar os profissionais da comunicação social, estar permanentemente contactável e colocar-se à disposição para o aprofundamento, debate e esclarecimento.
Importa levar junto dos órgãos de comunicação social a importância do factor trabalho e alertar para a igualdade de tratamento, numa abordagem plural e não somente na presença do mundo empresarial, quer seja na imprensa especializada, quer nos programas de economia das televisões e rádios. A CGTP-IN continuará a defender o tratamento dos temas do trabalho, dos trabalhadores, dos direitos, reivindicações e lutas.
Por outro lado, a fragilização da Agência Lusa assente na redução dos seus profissionais tem, como consequência, menos informação, menor rigor e menor diversidade. Apostar no reforço e não na redução destes profissionais é o que se impõe.
De salientar o esforço de muitos profissionais da comunicação que continuam a fazer um trabalho de grande qualidade e nem sempre entendido e aceite por quem toma as decisões sobre o alinhamento das notícias, ou por quem decide sobre os seus vínculos laborais, alargando os leques da precariedade que continuaremos a combater.
Relativamente ao trabalho a desenvolver no Conselho de Opinião da Rádio e Televisão de Portugal SA e nos demais fóruns em que participa, a CGTP-IN continuará a opor-se a tentativas de privatização e desmantelamento dos serviços públicos de rádio e televisão, e designadamente, a cortes de indemnizações compensatórias (as quais devem financiar, também, as antenas internacionais, os arquivos, bem como as demais obrigações de serviço público). A CGTP-IN continuará a pugnar por um serviço público de rádio e televisão e da agência noticiosa Lusa, defendendo a articulação com o serviço público de defesa da língua e cultura portuguesas, a ligação à diáspora, nomeadamente com reabertura das emissões em onda curta, e bater-se-á por um serviço público de rádio e televisão assegurado por empresas públicas que garantam informação rigorosa, isenta, plural e objectiva, um serviço público que contribua para o aprofundamento e consolidação da democracia e da soberania nas suas múltiplas vertentes. Continuará ainda a exigir que a TDT (Televisão Digital Terrestre) esteja ao alcance de todas as famílias de Portugal, como um serviço público de excelência e com a introdução de novos canais que actualmente vigoram no sistema pago.
A CGTP-IN continuará a informar os jornalistas de toda a actividade que desenvolve e a ser proponente, reivindicativa e atenta à realidade local, regional e nacional. A acção no terreno e a sua divulgação são fundamentais para a defesa dos direitos e garantias dos trabalhadores.
A unidade na organização e na luta reforçará a acção sindical. O compromisso que assumimos na construção deste projecto de esperança, de justiça de dignidade para todos no trabalho e na vida, dá-nos força para vencer os desafios. A força dos trabalhadores vencerá!
Com a luta permanente dos trabalhadores, uma informação rigorosa, livre, isenta e plural e com a força da CGTP-IN, uma sociedade de paz, de justiça social, triunfará para todos.
MAIS FORÇA AOS TRABALHADORES
POR PORTUGAL LIVRE E SOBERANO
UM PORTUGAL COM FUTURO!
Viva este nosso 13º Congresso!
Viva a CGTP-Intersindical Nacional!
Almada, 26 de Fevereiro de 2016