unnamedRealizou-se na passada sexta-feira, mais uma reunião sobre o que alguns teimam em chamar processo de reestruturação da TAP. À semelhança de todas as outras, também esta foi convocada pela Administração e realizou-se por videoconferência.

Nesta reunião, como noutras anteriores, começaram por nos servir em versão condensada uma série de gráficos, uns com legendas outros não, onde tentam impingir-nos as razões pelas quais já destruíram mais de 2500 postos de trabalho, e se preparam para destruir ainda mais. O que

para todos nós está cada vez mais claro, é a evidente contradição estre os números apresentados, misturando propositadamente a Portugália, para disfarçar a já indisfarçável purga que a TAP SA está a sofrer.

É necessário termos presente certos princípios sem os quais corremos o risco de nos estarmos a enganar a nós próprios. Vamos então a alguns números. Quando tudo começou, os “cientistas” da BCG elaboraram o tal plano de reestruturação da TAP – que não conhecemos e do qual apenas sabemos o que nos querem dizer – e decidiram que a TAP SA tinha 3000 trabalhadores a mais – sabe-se lá como é que eles descobriram tal coisa.

Em março do passado ano, como todos bem nos lembramos, deixaram de ser renovados oscontratos a termo e cessaram também todas as contratações com as empresas de trabalhotemporário. Este processo arrastou-se até março deste ano e assim foram destruídos cerca de1600 postos de trabalho.

Em fevereiro, após os acordos temporários de emergência que, sob ameaça de um regimesucedâneo fomos forçados a assinar, a TAP veio a público informar que tinha sido um êxito e quecom as poupanças conseguidas, afinal já não seriam 2000 a sair, mas sim 800. Por fim, também

na passada sexta-feira anunciaram-nos com pompa e circunstância, que as chamadas medidasvoluntárias tinham sido um novo êxito e que mais 700 trabalhadores já tinham ido borda fora.

Somos obrigados a perguntar porque diabo, após estes dois estrondosos êxitos a destruir postosde trabalho, vêm de novo insistir em mais despedimentos? Pensarão que não temos memória?

Sabemos que a pandemia tem cortado postos de trabalho nas empresas por todo o mundo. Mascortar quase 50% da força de trabalho? Que loucura é esta? Quem é o mentor desta destruição?

Onde se pretende chegar? Qual é o projeto para uma empresa reduzida a metade? De quantasrotas e Slots vamos abdicar?

Desde há muitos meses que os trabalhadores da TAP vivem um tenebroso quotidiano deameaças e cortes salariais, e não é a pandemia a principal causa desta situação. É bomrecordar, que desde o passado mês de setembro que são públicas as intenções da

Administração da TAP, e do próprio Governo, em reduzir a TAP à sua expressão maissimples, que é como quem diz a uma TAP pequenina que não incomode, e dê espaço aos grandes grupos internacionais, a quem a Comunidade Europeia há muito quer entregar o

transporte aéreo, e parece que o Governo português, convive bem com esta

“inevitabilidade”. Não vale a pena tentarem enganar-nos dizendo-nos: “sim agora ficamos

reduzidos a pó, mas no próximo ano já vamos contratar”. Isso são histórias infantis.

Esquecem-se, provavelmente, que depois de perdermos quota de mercado jamais a

recuperaremos frente aos grandes operadores que, ao contrário da TAP, não se

autodestruíram.

E quanto à M&E Brasil que continua a ser o habitual sorvedouro de recursos, o que nos dizem é

que estão a estudar todas as hipóteses, onde parece que se inclui também a manutenção dessa

aberração técnica e económica. Não chegarão ainda os mais de mil milhões de euros de prejuízos

já contabilizados?

Como todos sabemos a nossa empresa vive desde o verão do ano passado com uma

Administração provisória e reduzida. Em momentos como este em que as empresas precisam de

todas as energias para se organizarem, de modo a atacar o mercado superconcorrencial como é

o mercado da aviação. Na TAP continua-se a improvisar, fingindo que são todos especialistas em

todas as áreas do negócio. Sob pena de também nesta frente, pagarmos caro esta leviandade,

exige-se ao acionista estado que, muito rapidamente, dote a empresa de um órgão de gestão

composto exclusivamente por especialistas nas várias vertentes do negócio, de modo a acabar

com os aventureirismos e posicionar a empresa para a retoma que terá que acontecer muito

rapidamente. Aliás este foi um compromisso do Governo português aquando da tomada

maioritária do capital social do Grupo TAP.

Por fim lembramos a todos os trabalhadores que o salário não é uma dádiva. O salário é o produto

da venda da nossa força de trabalho que jamais poderá ser cortado para trocar por um posto de

trabalho. Essa é talvez a mais perversa das práticas que nos querem impor. Um posto de trabalho

sem salário tem outro nome. Chama-se voluntariado.